Quando as técnicas de gravação de imagem (o cinema, e mais tarde o vídeo) foram inventadas, artistas, bailarinos e coreógrafos apossaram-se dos territórios das imagens em movimento para colocar suas atuações (performances) em perspectiva, traçar hipóteses de pesquisa e abrir novos campos de experimentação visual e sonora. Inversamente, contribuíram para enriquecer estes domínios ao alargarem o contexto das imagens e inventarem uma arte do olhar.
A performance não é um género artístico, mas um catalisador que atravessa todos os domínios da criação contemporânea, no sentido lato. Nesta perspetiva, a performance constitui rapidamente um espaço de experimentação, de encenação crítica de um trabalho a partir de um outro uso do tempo, mais do que uma tentativa de atingir uma totalidade, uma síntese dos elementos artísticos postos em jogo. Se para a artista Cláudia Triozzi, a performance consiste em ficar de fora da representação e ser deportado para fora de si mesmo, a performance também põe em movimento um outro uso do tempo, que tira a subjetividade aos gestos, aos atos, às situações. Assim é o ‘cinema performativo’ que está a ser verdadeiramente inventado hoje por inúmeros artistas: um cinema que “performa” literal e simultaneamente o conteúdo e a sua forma, configurando loops temporais inéditos. Além disso, estas construções temporais são elaboradas a partir de partituras, de sons no sentido musical do termo, mas também de partituras de gestos e de atitudes para modelizar experiências e formas a interpretar, levando assim as obras aos confins situados entre a música, o cinema e a dança.
Os filmes aqui apresentados, escolhidos na coleção das obras do Centre National des Arts Plastiques (CNAP), inscrevem-se nesta perspectiva.
Herdeira da coleção nacional criada pela Revolução Francesa, a coleção do CNAP contém mais de cem mil obras, parte das quais está depositada nos museus franceses. Esta coleção foi alargada às novas tendências da arte contemporânea. A proposta de Let’s Dance!, concebida por Pascale Cassagnau para o festival FUSO, a partir das obras em vídeo da coleção do Centre National des Arts Plastiques, no cruzamento da dança, da performance e da música, demonstra que as obras são capazes de modelizar uma arte do espectador.
Esta apresentação contou com o apoio do Institut Français du Portugal.